O 16º Congresso da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) aconteceu, neste final de semana, na cidade de Carapicuíba, na grande São Paulo.
A nova presidente em meio à plenária do Congresso da UPES
Os mais de 500 participantes, sendo cerca de 250 delegados, escolheram para presidir a entidade pelo próximo biênio a estudante Nicoly Mendes, 17 anos.
Ex-presidente da UMES de Santos, Nicoly começou bem cedo no movimento ao presidir o grêmio com apenas 12 anos. O Congresso da UPES representou 1,2 milhão de estudantes na base, de cerca de 600 escolas do estado. Veja abaixo a entrevista da nova presidente ao Vermelho-SP.
Vermelho-SP: Como você conheceu o movimento estudantil?
Iniciei como presidente do grêmio da minha primeira escola, Professora Ivonete, com 12 anos, no Guarujá. Nisso eu estava na sétima série. Fui também presidente (do grêmio) da escola Marcílio Dias, na qual o Lula estudou quando veio para São Paulo. Depois, conheci a UMESG (União Municipal dos Estudantes Secundaristas do Guarujá), da qual fui tesoureira.
Vermelho-SP: E como vai ser agora na UPES, uma importante entidade estadual?
O time da UPES é muito novo, todos inciando o ensino médio. Isso é muito bom, pois ajuda a renovar o movimento estudantil com lideranças mais jovens e conectadas com o que acontece na escola, falando a mesma língua e tendo os mesmos anseios dos estudantes que estão na sala de aula. Então, acho que vai ser muito bom.
Vermelho-SP: O ensino técnico voltou a ganhar força e tem sido impulsionado pelo governo federal. Como essa realidade impacta na pauta do movimento?
Primeiro, no desafio de estar presente em todas as escolas de ensino técnico para garantir a qualidade. A ampliação precisa ser acompanhada de melhorias. É muito importante que a UPES esteja em contato permanente com os grêmios dessas escolas, que na sua maioria já existem, nos IFs, Centros Paula Souza etc. E, claro, estar ligada nos debates e na implementação do Pronatec.
Vermelho-SP: Pode-se dizer que sua primeira tarefa na UPES será recepcionar, em nome dos estudantes paulistas, o Congresso da UBES (2 a 4 de dezembro). O que espera deste momento?
O congresso da UBES é muito importante para trazer novas pessoas para lutarem por melhorias na educação.
Participar de um congresso e lutar para eleger uma mulher presidente da UBES é uma experiência muito nova [refere-se à Manuela Braga, estudante pernambucana candidata à presidência da UBES pelo movimento Tenho Algo a Dizer]. Ter uma presidente mulher da sua entidade incentiva a participoação de mais meninas no movimento estudantil, já que elas em geral que tem mais dificuldade.
Vermelho-SP: Mulher na UPES, mulher na UBES... A participação feminina tem crescido entre os secundaristas?
Fizemos uma posse de 32 grêmios na época do Guarujá [UMESG], a maioria deles presididos por meninas. Já na UMES, os pais deram uma barrada. A partir do momento que você sai da sua escola, da sua cidade, para participar de uma entidade estadual, os pais em geral já não gostam, principalmente quando é um dirigente menino que vem fazer o convite. Minha mãe ficou meio assim...
Dirigentes meninas ajudam mais mulheres a participar até porque os pais veem com outros olhos. Em São Paulo, a maioria das UMES é presidida por meninas. No movimento estudantil secundarista, estamos tentando elevar a participação feminina.
Vermelho-SP: Na sua opinião, quais os maiores problemas do ensino em São Paulo?
A qualidade do ensino é baixa e o problema não é só do professor, a quem falta estímulo. Os estudantes não têm atrativo na escola. Na escola, vemos lousa e giz, mas chegamos em casa e jogamos Playstation 2. Ou seja, há uma defasagem tecnológica grande.
Os problemas estão na estrutura da escola. A visão de ir à escola para passar de ano, mostrar que o ensino existe. Mas o ensino não prepara para a universidade e nem para a vida. O estudante de escola pública vai ter que trabalhar para pagar uma universidade porque não vai conseguir pagar cursinho...
Vermelho-SP: Por isso as pautas dos estudantes e dos professores dialogam cada vez mais.
O estudante está começando a entender que o professor não é inimigo. Muitas lutas da UPES são feitas em conjunto com o professor, que também quer mudar a escola. Por exemplo, a luta contra a apostila [utilizada pelo governo do estado] une estudantes e professores.
De São Paulo, Fernando Borgonovi